Hoje vi um vídeo bem interessante. Um senhor, acredito que passados dos 75 anos, dançando balé. Dizia que já tinha feito tanta coisa na vida, que os filhos já tinham tomado seu rumo e pensou no que fazer: escolheu o balé. Eu achei fantástico pois adoro situações onde desafiamos a nós mesmos. Ele não está fazendo essa prática para apresentar-se ao público em uma super coreografia (se fosse isso também, sem problemas). Ele se propôs experenciar algo novo, sentir algo novo. Eu já fiz aula de balé com a famosa profe Aline da minha cidade. Admiro tanto ela pois sempre teve o sonho de ter uma escola de dança e hoje tem uma e a sustenta. Além disso, muitas pessoas são fãs dela e de seu trabalho. Em resumo faz o que gosta e tira seu sustento. Mas eu, ao tentar usar uma dessas sapatilhas rasas me senti a autêntica “bailarina das coxas grossas”. Não sei se lembra da novela em que a atriz Cláudia Raia tentava se aventurar no balé (bom gente faz tempo essa novela, acabei revelando minha idade, que nunca escondi de ninguém). Mas balé é algo complexo ao extremo. Exige força e leveza. Como? Força e leveza são antagonismo puro!!! Assim é o balé, na minha humilde e suscinta descrição. Eu gostava de praticar, me sentia bem depois, reconhecia músculos que não sabia que estavam no meu corpo, mas me achava a mais ridícula do mundo olhando no espelho. Me apresentar então? Jamais.

E olha que já pratiquei tantos tipos de atividade física que poderia dizer que mais essa não seria problema. O voleibol, por exemplo, me acompanhou durante anos na vida e me fez muito feliz. Amava jogar, competir nem tanto. Gostava dos treinos, dos ralis, de suar e conviver com as gurias. Mas na hora de competir não era tão boa como nos treinos. Acho que não nasci com a layer da competição. Tem pessoas que se transformam quanto estão em jogo de ganhar ou perder. Nasce um ser novo, forte, avassalador…uma transformação. Mas nunca me encantei com o competir. Se ganhava ficava com dó de quem perdia. Enfim, isso. Também pratiquei capoeira, yoga, pilates, musculação, trilhas no mato (conhecido Trekking ou Hiking, no inglês). A atividade física me faz bem. Meu personal, o queridão Cleber tem muita paciência comigo, pois musculação não é o que me emociona, mas sei da importância e ele me ajuda muito.

Mas aí, olhar um senhor tomando a decisão de começar a praticar balé no auge de seus quase 80 anos? Isso mexeu comigo. Claro, ele é super magrinho e todo “serelepe” para praticar balé. Mas fora questões físicas, um homem praticar balé e com essa idade? Quanto desprendimento, não? Que exemplo pra mim!

Muitas vezes somos tão resistentes a experenciar. Experimentar algo muito distante do que já fizemos até então. Seja uma comida diferente ou uma atividade diferente. Será que depois que tivermos esta nova experiência seremos os mesmos de antes? Certamente não. E é isso que o mundo moderno impulsiona. Pessoas aptas a se transformarem. Pessoas abertas ao novo e ao inusitado, porque não? Porque não buscar algo inusitado? Porque não ir num restaurante desconhecido, pequeninho e com cara de “estranho”?

Minha experiência de vida me diz que os homens são mais resistentes a inclusões. A olhar as possibilidades com uma visão inclusiva e não seletiva. Mas depois que vi este vídeo do senhor dançando balé, mudei de opinião. A atitude dele destrói meu preconceito quanto a atitude da maioria masculina. E mais do que isso, aquele senhor me fez repensar em coisas que eu não escolho para mim porque outras coisas estão ocupando espaço na minha vida. De vez em quando temos que fazer uma lista de atividades, projetos, pessoas e coisas que fazem parte da nossa vida e descartar. Eliminar o que não faz mais sentido. O que só está ocupando espaço. Isso vale também para nossos guardas roupas. Movimentar nossa energia, trocar pessoas e olhar para a nova pessoa que nos tornamos depois disso. É preciso coragem e desprendimento. Não nos preocuparmos com a opinião dos outros, pois ninguém está na sua pele e ninguém sabe da tua história como só você sabe. Pode ser um movimento gradual planejado, mas as vezes tem que ser bruto e transformador, senão nunca aprenderíamos a delícia de dançar balé.

Aprenda sempre!