Ouvimos falar muito sobre ego. Ego é o que motiva a pessoa a fazer algo e nem sempre deve ser visto como algo negativo. É ruim quando o indivíduo quer simplesmente alimentá-lo para provar aos outros que é vitorioso. Essa disputa entre as pessoas, seja por política, por religião, por filosofia é algo exclusivamente do ego. Eu não sou psicóloga e sei falar pouco sobre isso, são apenas percepções de vida e me restrinjo a estas poucas palavras. Mas há algo mais sobre o ego que gostaria de comentar: o ego coletivo. Fazer vibrar nossa vontade pessoal em um grupo. Por que? Para ser aceito, ser reconhecido, ser aplaudido. Em outras palavras, vencer.

Mas essa disputa é ilusão de nossas mentes. Há espaço para todos. Não precisamos diminuir ou destruir o outro para que tenhamos espaço. Mas, comumente não entendemos assim (eu me incluo) e é preciso muita terapia para perceber que as coisas não são assim. Estou aqui entrando de novo no campo das humanas, me perdoem, falo por experiência e vivência e não por conhecimento científico. Falo isso porque quero justificar meu blog, minha decisão em expressar um pouco do que sinto e faço. Eu já me perguntei muito se essas constatações são relevantes para as pessoas e fico com medo de seguir em frente (olha o ego coletivo aí). Então decidi que eu não tenho que julgar a minha vontade de contribuir com as pessoas. Ela existe e é legítima. Os feedbacks me dirão (ou me julgarão) pelo que apresento, se será bom ou não.

Então peço permissão para começar a expressar impressões sobre vida, pessoas e cidades. Sou Engenheira Civil, formada há 15 anos (aliás vou tentar reunir a galera para o primeiro encontro pós formatura), especialista em Gerenciamento Ambiental e Doutora em Urbanismo. Minha vida profissional começou atuando na Prefeitura da minha pequena cidade, Flores da Cunha (30 mil habitantes, localizada na Serra Gaúcha). Foi meu primeiro contato como profissional na “vida real” dentro de um órgão público. Certamente essa primeira experiência determinou todas as minhas escolhas profissionais posteriores. Sempre digo que Deus é bom pra mim, porque sou apaixonada pelo que faço.

Desde então trabalho com questões relacionadas a cidades, desenvolvimento urbano, projetos urbanos, planejamento urbano e pessoas. Pessoas e pessoas. Como é fascinante olhar para cada cidade e saber que quase nada do que constatei em outra cidade se aplica a essa, pois os grupos, as organizações, as pessoas são diferentes.

São as pessoas que normalmente marcam época, sejam como empresários, políticos, religiosos, professores e tantos outros. Quantas vezes comentamos sobre um período do passado e dizemos: na época do Fulano de Tal, era assim. Pessoas que fizeram a diferença. Pessoas que ousaram fazer algo diferente do convencional. Muitos não tiveram sucesso, mas certamente mudaram a sua (ou incluíram uma nova) forma de pensar. Sim, mudar a forma de pensar é pensar de novo a mesma coisa, mas com novos elementos. Novos caminhos neurais se formam e aí vem os chamados insights, que são aquelas percepções que depois de feitas pensamos que são tão óbvias. O óbvio é algo interessante que muitas vezes ignoramos, mas nos faz perceber situações libertadoras.

Então, pessoas e cidades serão meus principais temas. Falarei sobre isso, e com a participação dos leitores conseguirei chegar a novas conclusões e produzir novos textos. Não sou tão boa na escrita (a Engenharia me ajudou pouco nisso), mas pretendo complementar esta falta com conteúdo interessante.

Tenho uma percepção que não me sai da cabeça, especialmente nas vezes em que me deparo com uma nova situação de trabalho em alguma cidade. Perdeu-se (ou enfraqueceu) algo importante que no passado era a principal “cola” das pessoas: espírito comunitário.  As pessoas se organizavam em comunidades por uma questão de sobrevivência. No passado, se eu não participasse da comunidade não poderia contar com a pessoa que sabia aplicar injeção, por exemplo (minha mãe era a especialista na minha infância, fazia o serviço para toda a vizinhança, caminhava mais de quilômetro para atender as pessoas – e detalhe: sempre com a mesma seringa, que era esterilizada com água quente). As pessoas se “obrigavam” a conviver. Certamente brigas aconteciam (não por whatsapp ou Facebook) mas, hora ou outra o encontro era obrigatório e por isso era “obrigatório” voltar a conviver. Eu lembro um pouco deste tempo, mas tenho mais noção disso porque ainda existem comunidades no interior que conseguem preservar este espírito, preservar essa “cola”.

Falo isso porque os Bairros não têm mais, obrigatoriamente, vínculo comunitário. Alguns nem ponto de encontro têm.  Outros são grandes demais, ou pequenos demais, outros são divididos por rodovias – e muitos não têm pessoas que liderem e motivem encontros. Sem pessoas que promovam encontros não adianta ter um belo espaço comunitário, pois ele ficará vazio.

Certamente este é um grande desafio, pois não precisamos mais do vizinho para fazer injeções ou benzer um cobreiro. Procuramos no Google e resolvemos em casa mesmo, acompanhando o vídeo no Youtube com a demonstração de como fazer. Que bom que a informação chegou para todos e que podemos aumentar nossas chances de sobrevivência através da tecnologia. Mas o que estamos perdendo com esse afastamento? Eu acredito que parte dos problemas das cidades são decorrentes desta perda. Acredito que resgatar isso (resgatar em partes, pois minha mãe também não tem mais aquela seringa de metal…) seja fundamental para termos cidades mais acolhedoras e seguras. Pessoas nas ruas compartilhando os espaços públicos de qualidade. Trocando, incluindo, se transformando e até discutindo.

Estes são os temas que eu, Giovana Ulian, quero discutir com vocês. Quero falar sobre cidades e pessoas. Quero ajudar a transformar cidades através da promoção e da aproximação de pessoas.

Gostaria muito de contar com sua ajuda, porque sozinha faço muito pouco.