Este Senhorzinho aí da foto é o famoso arquiteto dinamarquês Jan Gehl. Autor de inúmeros livros como ‘Cidade para as pessoas’, ‘A Vida na Cidade. Como Estudar’, entre outros. Ele é muito requisitado em projetos urbanos e ficou mais conhecido a partir do livro Cidade para Pessoas, citado acima e lançado em 2010.

Tive a honra que conhecer Jan Gehl no Congresso do Novo Urbanismo em Savannah (EUA) em maio de 2018. Seu discurso é simples e muito crítico ao movimento do modernismo, que fez muitas obras urbanas com maior foco no novo, no moderno e negação ao passado. Essas obras muitas vezes são como protestos ao passado, mas certamente focados em forma, obra autoral e pensamento menos voltado para a funcionalidade.

Fiz essa brincadeira com a foto e o título deste texto, pois aparentemente o maior interesse do respeitado arquiteto era olhar para uma região do corpo feminino que normalmente chama a atenção dos homens (mesmo os mais experientes). Mas essa simpatia de profissional queria falar comigo e estava procurando no meu crachá, meu nome e de onde eu vinha. Ou seja, queria falar com uma pessoa com nome e origem. Queria entender meu contexto para então conseguir avançar. O foco dele era a pessoa que com ele estava.

E sobre as cidades para as pessoas? Quanto realmente buscamos isso? Recentemente estou tendo a oportunidade de conviver com municípios em fase de revisão de Plano Diretor. Em Caxias do Sul (RS), o projeto está na câmara de vereadores há quase um ano e aparentemente o entendimento está longe de acontecer. Percebe-se legisladores defendendo interesses pontuais e outros com olhar de desenvolvimento. Já em Joinville (SC), a conclusão foi que a densificação é benéfica e foi então aprovada a legislação usando benckmarking internacional de densidade, reconhecendo que uma cidade mais compacta permite encurtar distâncias e aumentar a eficiência com o aproveitamento de infraestruturas existentes.

Mais recentemente, estou acompanhado também o que ocorre em Santa Cruz do Sul (RS), uma das cidades mais prósperas do interior do Brasil. Os índices urbanísticos são extremamente polêmicos e difíceis de consenso, especialmente porque se trabalha na opinião pessoal de cada um. É preciso entender quantitativamente como a cidade responde a situação atual e como responderá com uma situação proposta. Costumamos chamar isso de cenários de desenvolvimento. Medir, medir e medir. Além disso, observar e adaptar o funcionamento das cidades às necessidades das pessoas.

Segundo Jan Gehl é preciso ter liderança, visão e objetivos a serem alcançados para que as cidades melhorem a qualidade de vida dos seus habitantes. E para isso é preciso um envolvimento da sociedade civil, pois a decisão sobre as cidades é multidisciplinar e não pode ficar na mão só de arquitetos e engenheiros. Jan Gehl sempre cita a esposa psicóloga que o motivou a ter um olhar diferente para a cidade.

Precisamos portanto definir os rumos da cidade e trabalhar para se manter na direção proposta. Não existe fórmula mágica e receita pronta. Nas palavras de Jan Gehl, cada cidade deve buscar soluções específicas, mas o que é certo é que o “homo sapiens” está em qualquer uma delas, e este é o foco.

Vivemos uma época recente em que as cidades eram mais pensadas para os veículos, devido ao aumento da população e principalmente da frota, ruas mais largas e múltiplas pistas. Agora, estamos fazendo um movimento contrário, de pensar a estrutura urbana para o aproveitamento das pessoas. Espaços comuns para convivência, faixas para bikes, pedestres, e uma nova ‘Era’ de compartilhamento. Menos carros, mais transportes alternativos, distâncias mais curtas e cidades cada vez mais ‘caminháveis’.

Descentralizar também é uma forma de tornar as cidades mais dinâmicas, criando zonas mistas a fim de diminuir os deslocamentos e colaborar para a diminuição do trânsito. O futuro é algo que ainda não aconteceu, mas sem dúvida, estamos aprendendo com o que já é uma realidade, juntos.

As cidades estão sendo pensadas cada vez mais para as pessoas