Estive recentemente na cidade do Chuí. Extremo sul do Rio Grande do Sul. Extremo sul do Brasil. Para alguns o fim do Brasil, mas para o prefeito do Chuí, Engenheiro Civil Marco Antônio, o Chuí é onde o Brasil começa. Aliás dá gosto falar com um prefeito com formação técnica que, segundo ele, está “sacrificando um tempo de sua carreira” para ajudar a sua cidade. Mas que um mandato é o suficiente. Está realmente fazendo ações inéditas numa cidade de fronteira, também conhecida pelo termo legal: cidade gêmea. A maioria destas cidades são muito sofridas pela irregularidade e clandestinidade. Em cidades de fronteira, a chance de fugir tá ali do outro lado da rua. O Chuí se emancipou de Santa Vitória do Palmar há mais de 20 anos, mas nunca conseguiu se organizar muito, pois este viés da fronteira ajuda muita gente a ganhar dinheiro, mas a organização da cidade vai ficando em segundo plano. Lá já ouvi a expressão: “o caos favorece”. Ou seja, há quem lucre com o caos.

Nesta ida ao Chuí (sabe quando tu nunca chega?), onde a minha empresa Biossplena Inteligência Urbana está desenvolvendo um projeto chamado Chuí do Brasil, para provocar avanços. Trata-se de uma área ao lado da cidade consolidada que tem como principal indicador absorver os futuros freeshops ou como citado em nossa legislação as ‘Lojas Francas’. Estamos propondo um projeto audacioso que além de permitir um turismo de compras mais qualificado e seguro, locais para moradia com o mínimo de urbanidade possível: o que qualquer pessoa merece. O projeto está interessante e atraiu um empresário de SP, acostumado com terrenos longínquos e que pouco empreendedor quer ir. A propósito ele tem negócios no Pará e talvez ele será o único empreendedor com negócios do Oiapoque ao Chuí. Graças a Deus tem empreendedor audacioso neste país!

Bem, então entre uma visita e outra ao Chuí, apresentando o “caos” ao empresário Paulista, eu sempre converso com as pessoas de todos os tipos e em todas as situações. Nas ruas da cidade o idioma é “portunhol”, mas as vezes mais espanhol que português. A falas se misturam bastante. Mas fica claro que ali o uruguaio é muito presente, especialmente quando se está comprando do lado brasileiro. Nesta oportunidade encontrei uma jovem senhora no café do hotel, ela estava com o marido e o filho. Perguntei a ela o que faziam ali, se tinham vindo para compras ou outro motivo. Ela me disse que eles tiveram três dias de folga do trabalho e vieram dar uma voltinha no Brasil (moram em Montevidéu). Pensei comigo, mas sair de Montevideu (cidade encantadora) para ir ao Chuí??? Devem ter vindo para fazer compras no freeshop. Ela me disse que até fazem compras, mas que o objetivo da viagem deles era vir ao Brasil, ficar um pouco no Brasil e conviver com os brasileiros. Fiquei impressionada. Ela, pessoa super querida e atenciosa, me perguntou de onde eu vinha. Eu respondi que morava na Serra Gaúcha próximo de Gramado, Canela, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, então ela disse: “Meu sonho é conhecer a Serra Gaúcha! Estamos programando, mas para nós é caro, então sempre viemos pelo menos até o Chuí, para estar um pouquinho no Brasil”. E aí ela disse a frase que virou título: “me encántam los brasileños” (coloquei acento mesmo para forçar a falar no sotaque deles).

Pensei, que legal! Que orgulho. Eles valorizam tanto o Brasil e gostam tanto dos brasileiros. São um povo leve, acolhedor, muuuito cultos. Há quem comente que o Uruguai escolheu ser assim: leve, sem trabalhar demais, sem tantas indústrias, com uma vida mais suave, uma rotina mais calma. Talvez por isso tenham uma matriz produtiva baseada no turismo, no vinho e no doce de leite. A este último… ganhou fama, sendo que um dos principais ingredientes, o açúcar, é todo importado. Aliás, muito uruguaio vem ao Chuí para fazer compras de supermercado e voltam com porta malas lotado de coisas básicas como o açúcar que lá no Uruguai é mais caro.

Mas é fato que fiquei ainda mais apaixonada por este país depois deste encontro. Minha amiga e doce profissional, Larissa Verdi da Textograma, que me dá suporte de comunicação e que embarcou neste projeto comigo de expressar o que sinto, também esteve recentemente no Uruguai e está igualmente maravilhada. Ela me contou que fez a viagem de carro. Muitas horas na estrada até chegar a Colônia do Sacramento, mas que a ideia era exatamente essa: conhecer um pouco mais desse país que está tão pertinho e que nos conduz em paisagens belíssimas e estradas muito bem conservadas. Para ela, o que mais chamou atenção foi a calmaria dos uruguaios, e que talvez, o tanto de brasileiros que visite o país, seja o ingrediente que faz eles se sentirem mais próximos do Brasil e ter tanta curiosidade de visitar o lado de cá.

Enfim, a lição é: temos coisas boas neste nosso Brasil, a começar por pessoas boas. Nossa auto estima deve aumentar, sem prepotência. Temos que continuar tentando dar exemplo, mesmo que outros brasileiros em outros locais não sejam tão bem quistos assim. O Alex Henrique Hoffmamm que está na Austrália e esteve de passeio em Flores da Cunha nos últimos dias, me contou que existem locais lá onde brasileiros não são bem vindos. Isso sempre vai existir. Em todos os países, cidades, grupos de pessoas, condomínios etc. Existirão pessoas que não nos orgulham e não nos representam. Nosso papel é tentar mostrar que quem é educado, correto e ordeiro tem mais valor e que o “crime não compensa”.

Quem tiver a chance de ir ao Uruguai faça, mas passem pelo Chuí. Sentirão na pele o quanto somos queridos pelos uruguaios e o quanto eles nos admiram.

As Ramblas de Montevideo em um final da tarde típico uruguaio, um pouco outonal para esta época do ano.