Algumas vezes vivemos momentos de pânico. Momentos em que os instantes parecem não passar. Parecem que duram horas. Olhamos ao redor e vemos, diante de uma mesma situação, comportamentos distintos ao nosso. Alguns mais calmos e outros incrivelmente descontrolados. Poderia citar diversas situações em que me vi diante do medo e da insegurança, momentos que eu já vivi e que passaram.

Hoje aconteceu comigo algo interessante. Essa cena já se repetiu em minha vida, de forma análoga e não igual, algumas vezes. E por esta razão me perguntei, por quê? Porque isso está acontecendo novamente? Não é uma situação de pânico, pelo menos não para mim, mas poderia ter se tornado assim. Fui fazer exames de sangue. Meu endocrinologista não poupa na quantidade de exames porque ele realmente está preocupado comigo e procura fazer um ‘escâner’ completo através do meu sangue. Bem, eis que fui coletar sangue e ao todo foram 45 exames.

A atendente do cadastro inicial conferiu tudo várias vezes. Em pelo menos dois momentos tirou dúvidas com a outra atendente, aparentemente mais experiente no setor. Até aí tudo certo. Algo que normalmente demora, desta vez demorou mais. Costumo repetir estes exames a cada 4 meses, então para mim é relativamente normal.

Então passei à outra sala e a moça que me atendeu tinha em seu crachá escrito “coletora”. Uma mulher aparentando uns 42 anos provavelmente “experiente” no assunto coleta. Quando ela viu a lista de exames começou a dizer: Jesus, tudo isso? (Jesus e Deus foram citados umas 5 ou 6 vezes durante a coleta). Ela disse que tinha que conferir tudo antes de coletar o sangue. Mas aí reclamou das letras pequenas do papel que saiu da primeira atendente. Reclamou que estava difícil de ter certeza se todos os exames solicitados pelo meu médico estavam realmente sendo coletados.

Ela então saiu da sala para tirar uma dúvida e voltou (ainda com a dúvida) me dizendo que talvez eu teria que voltar outro dia para coletar novamente, explicando que como era domingo talvez algum dos vidrinhos de sangue seriam inutilizados, pelo fato de que a equipe que analisa só trabalha durante a semana. Ajudei ela a ler as letras pequenas e conferir os exames. Fomos e voltamos umas quantas vezes nas folhas e na requisição do médico. Daí ela trocou a caneta por uma caneta marca texto e fez uma nova conferência, pois as marcas da primeira caneta já deixavam dúvidas.

Depois conferiu cada um dos vidrinhos diferentes de coleta. Até a agulha entrar na minha veia ela ainda me perguntou se eu costumava ficar tonta, pois era muuuito sangue para ser retirado. Disse que parecia doação de sangue e não coleta para exames. Me perguntou: Será que tu vais aguentar com uma única picada? Será que tu veia aguenta? Será que teremos que te “furar” mais de uma vez?

Enfim ganhei muitos “incentivos” para suportar aquele momento. O que fiz? Desmaiei como sugerido pela “coletora”? Comecei a chorar? Nãooooo, mas se dependesse dela, sim. Mas é claro que não era intencional. Fiquei me perguntando qual a preparação psicológica que esses profissionais recebem? Sabe o que no fim aconteceu? Eu acalmei ela. Disse que iria dar tudo certo. Que minha veia ia aguentar todo este sangue. Que estava acostumada. Que ela podia ficar tranquila que logo tudo isso acabaria da melhor forma e que eu estava bem. Enfim, eu a consolei e mantive a situação sob controle. Mas este não era o meu papel naquele contexto.

Não quero julgá-la, acredito que ela não recebeu preparo suficiente para aquela atividade. Claro que a questão da conferência, repetidas vezes, demonstra cuidado e responsabilidade, mas no final, da forma que foi, gerou mais dúvidas em mim. Fiquei pensando sobre isso. Nas vezes que já me ocorreu de eu receber uma notícia ruim, que me afetasse diretamente, e ter que consolar os outros. Isso já aconteceu contigo?

Alguma vez tu tiveste que suportar uma situação, consciente de que alguém deveria te dar o suporte, mas que no fim percebeste que tu eras mais forte e fez o papel do consolador? Mas a pergunta que me faço é quantas vezes, neste papel de “mulher macho sim senhor” eu me coloco e acabo por nunca receber. Será que ser forte sempre é saudável? Será que conseguimos ajudar os outros fazendo sempre o papel de escudo? Estou certa que não devo ser sempre este lado das histórias, pois isto tem custo para minha saúde. Não quero ser forte sempre. Suportar sempre. Também quero que alguém me acalme, por favor.