Estamos praticamente há mais de 3 mêses nos habituando a uma situação nova. Tão nova que não nos permite qualquer perspectiva sobre o futuro. Onde estaremos daqui a 60 dias? Quem serão nossos clientes? Quem serão nossos vizinhos? Como voltaremos a nos comunicar? Nós voltaremos a nos abraçar um dia?

São perguntas que, entre outras tantas, estão presentes na minha cabeça pelo menos. Mas, temos pouca certeza das respostas. Certamente, nós perderemos alguns referenciais do antigo normal e não voltaremos a fazer algumas coisas. Talvez possamos dar mais importância para algumas questões simples, como ter o sol batendo em algum lugar da casa para energizar o corpo durante os dias de quarentena (ou “noventena”). Ter um metro quadrado de grama para colocar o pé e sentir um pouco da natureza. Além disso, entender que não fazer as unhas toda semana não nos faz menos poderosas, e que a reunião será tão profícua quanto se as unhas estivessem 100% alinhadas.

Certamente, as coisas simples e naturais ganharão mais importância. Pelo menos na minha vida sim. Poder trabalhar alinhado, com boa alimentação e atividade física (mesmo que dentro de casa no tapete da sala). Além disso, poder tomar quanta água quiser, pois o banheiro está ao lado da minha mesa de trabalho (algo que precisava calcular quando tinha uma agenda agitada de viagens). Certamente, isso ganhou muita importância na minha vida. Em 10 minutos puxar uma leitura despreocupada e alongar-se a qualquer hora. Inventar pães lowcarb com os muitos ingredientes que foram se acumulando em casa, porque só comprava e nunca dedicava tempo para fazer. Tudo isso tem preenchido meus dias. Claro que também sinto solidão, falta da família e de certo agito, mas acostumar-se com isso também tem sido divertido.

Mas, nós temos o costume de ficar reclamando. Nós temos o péssimo hábito da vitimização. De nos acharmos no direito de dizer que algo faz falta, sendo que o mundo inteiro está sofrendo com isso e não somente nós. Tem gente que reclama que está trabalhando demais agora, mais que antes. Eu agradeço por ter um trabalho e ter com quem trocar. Com quem manter vivas relações e perspectivas. Para mim, nem sempre os dias amanhecem leves, mas suportar os desconfortos e aprender com eles é um caminho para minha evolução.

Então lembrei que recentemente, talvez uns 20 anos atrás, era permitido fumar dentro de hospitais, dentro de bares e restaurantes. Quem lembra aí de voltar para casa com a roupa tão fedida que, antes de lavar, era preciso deixar do lado de fora da casa tomando um ar no varal, senão contaminava tudo. As pessoas que optavam por não fumar eram obrigadas a ficar junto com as que queriam se autodestruir. Que louco isso! Vocês lembram quando finalmente aconteceu a proibição? Quando não foi mais permitido fumar em locais fechados? Os fumantes tinham que ir para o lado de fora do ambiente e ficar na rua. Há empresas que também passaram a proibir e os funcionários tinham que ir para a rua fumar. Lembro disso quando trabalhei dentro da empresa Florense Móveis. Aliás, que baita empresa que me dá orgulho. A situação ficava até constrangedora, pois os que fumavam ficavam (e ainda ficam) em destaque. Todos sabiam que lá fora estavam os diferentes (ou teimosos).

Foi tanto alvoroço que os donos destes espaços de comida e diversão disseram que iriam quebrar e que ninguém mais iria aos seus estabelecimentos, que iriam sofrer muito com a mudança.

Claro, mudança gera caos, gera desconforto. As coisas serão diferentes e precisaremos nos adaptar. Mas pergunto: alguém aí gostaria de voltar àquele tempo? Vocês conseguem se imaginar fumando dentro de um hospital? Talvez os mais viciados digam que sim, mas os conscientes certamente dirão não.

Isso é um alento, pois temos a perfeita certeza do quanto algumas mudanças desse tipo tornaram nossa sociedade melhor. Aliás, muitas pessoas deixaram de fumar por causa disso. Bom, não?

Espero que estejamos todos abertos para grandes mudanças de estilo de vida. Para isso é preciso desapego e fé. Desapego para deixar vir as coisas melhores e permitir abandonar o que tiver que ficar para trás. Fé, porque precisamos acreditar que algo bom nos espera. Essa motivação, essa vibração, se encarregará de concretizar essas possibilidades.