Estive recentemente em São Paulo para um casamento de uma querida amiga. O local do casamento, como é comum em São Paulo, era afastado. Era em um haras que foi adaptado para eventos e a distância era uma hora de Uber, do hotel que estava hospedada na capital paulista. Junto com outras amigas, queríamos aproveitar ao máximo o tempo em São Paulo e pensamos em ir visitar um outro local no sábado, dia do casamento. Porém, as distâncias e tempos para percorrer este local e também ir ao casamento nos impediam de fazer tudo. Uma amiga paulista (a Adri) então sugeriu: ‘Vocês se arrumam para o casamento, saem prontas, vamos fazer a visita àquele lugar e na volta deixo vocês no casamento’ (ela não era convidada do casamento). Então disse a ela: ‘Amiga, ir de vestido longo visitar aquele lugar? Imagina que estranho?’. Então ela me disse: ‘Aqui em São Paulo pode, ninguém tá nem aí para a roupa que você está usando’.

Então fiz uma reflexão. Quantas vezes nos limitamos a fazer algo porque estamos preocupados com o que falarão de nós. Ou pior, não somos honestos com nossas vontades e desejos porque “devemos” caber dentro da caixinha social? Não tem uma vez que passo por São Paulo que volto sem aprendizado. A cidade grande, cosmopolita e muito dinâmica nos dá uma sensação de liberdade incrível.

Mas, olhando bem para isso, não é a cidade e sim como eu penso e sinto quando estou em São Paulo. Eu penso que não encontrarei ninguém conhecido, então sem problemas se sair de chinelo de dedo para ir almoçar. Sem problemas se não me maquiar para um encontro profissional. As pessoas querem o teu conteúdo e não a tua aparência. Para para…Melhor corrigir o que acabei de dizer. Não são os outros que querem teu conteúdo. É tua decisão protagonista de se despir de todas as camadas que escondem teus medos (e rugas) para entregar tua essência. Lógico que me maquiei para o casamento, mas se quisesse ter ido sem maquiagem e de bermuda, minha amiga que casou não ia se importar, pois o que ela queria de verdade era minha presença.

Nada contra nos arrumarmos, estarmos bem vestidos…muito pelo contrário. Mas isso tem que fazer bem a ti e não ser uma competição. Não podemos fazer isso para os outros. Temos que fazer isso para nos sentirmos melhor, mais confiantes, mais bonitos e por consequência alegres por isso.

As mulheres de modo geral, se vestem para mostrar para as outras mulheres (até porque os homens as vezes nem reparam). Eu já fiz isso e acho que ainda faço, mas não quero mais fazer. Quem trabalha comigo sabe que as vezes eu vou arrumadíssima e as vezes vou de tênis trabalhar. Porque? Porque faço o que tenho vontade na hora de me vestir. Tento expressar pela minha roupa o que estou sentindo. A minha essência.

Acredito que os homens são mais felizes neste sentido da aparência. São mais desprendidos e menos preocupados com o que os outros vão pensar. De modo geral é mais tranquilo ao homem decidir uma roupa e normalmente, não ficam chateados com algum comentário irônico sobre sua barriguinha sendo arduamente segurada pelos botões da camisa quase estourando. Dão risada junto com o debochador e vida que segue.

Essa estada em São Paulo me fez pensar ainda mais sobre o assunto aparência. Lembrei do meu pai me dizendo que eu não precisava ter vergonha de estar com a roupa suja, na época que trabalhava na roça com ele. Ele me dizia que estar com a roupa suja naquele contexto só demonstrava que tinha trabalhado e que aquilo me honrava. Sábio meu pai, não? Ele, com seu jeitão simples só queria me dizer que: o que importa é tua essência não tua casca momentânea.

Bem, é claro que vestir-se bem para ir a um teatro, a um casamento ou para fazer uma palestra é uma forma de expressar felicidade pelo momento. Mas o importante mesmo é ter alinhamento entre o que sentimos e usamos. A isso chamo de liberdade que se aplica em múltiplas situações. O que ficou claro para mim depois dessa experiência é que vou tentar me sentir em São Paulo sempre, pois em São Paulo pode tudo o que achar melhor.