A dor faz parte de nossas vidas. Dor física ou emocional. Dor no coração ou dor na cabeça. Fazendo uma analogia com o português, a dor deveria ser como uma vírgula em um texto. Ela serve para pausar a leitura, respirar e retomar. A vírgula ajuda a dar nexo e mais ênfase a frase. Tirando a vírgula ficam palavras soltas e não conseguimos entender o sentido.

A dor, em nossa vida deve ser como uma vírgula. Ela tem que durar o tempo suficiente para o aprendizado. Toda dor gera aprendizado, a não ser que a pessoa não queira perceber isso. Bom, neste caso a chance da dor voltar da mesma forma aumenta. Também aumenta a chance de ela vir mais forte…não é castigo, é para “sacudir” e gerar o aprendizado.

Costumamos engolir as dores, para ver se digerem no estômago. Engolir os sapos. Mas aí aparecem os nós atravessados na garganta, a gastrite, refluxo, dor de cabeça, ansiedade. Adoecemos porque guardamos as coisas mal digeridas dentro de nós. Isso não significa que tem que correr nas redes sociais manifestar seu problema publicamente. Mas sim buscar caminhos para expressar. Eu gosto de escrever, pois ao ler o que escrevo consigo compreender melhor minhas dores. Ás vezes só contar para uma pessoa, mesmo que ela não fale nada, ajuda a organizar o que sentimos. Tu te escutas e ao te escutares percebe, sente e entende. Outras vezes é preciso falar diretamente para pessoa “causadora” do desconforto. Em alguns casos pensamos que é uma pessoa que achamos ser culpada e depois vemos que o buraco estava em nós e projetamos isso no outro. É sempre mais fácil sairmos de vítimas da história, mas aí as chances de evolução diminuem muito.

Deixar acumular ou achar que vai se resolver sozinho é igual a se abraçar com a morte. Assim como jogar aos quatro ventos ou evolver ao “culpado” sem reflexão. O certo é que dá para se expressar. E isso deve ser feito de maneira que o “culpado” consiga perceber o seu lado da história, portanto é preciso contextualização. O que é obvio para mim não é obvio para todos.

É preciso ter consciência de que o caos faz parte. A Giovana de ontem não é mais a mesma de hoje. Hoje eu fui a uma palestra com minha querida amiga e arquiteta Viviane Pradella. Há meses eu não me encontrava com a Vivi. Fizemos umas vivências juntas sobre questões de infância e percebemos que temos mais em comum do que imaginávamos. Portanto, a Giovana de hoje é diferente da Giovana de ontem. As pessoas que estiveram comigo hoje me modificaram um pouco. A palestra então, foi libertadora, especialmente relativo aos meus traumas de infância. Então a pergunta que fica é: como vou tomar o mesmo tipo de decisão de ontem se a Giovana de hoje é outra. Não posso ter um ponto de vista fixo e querer usar ele para sempre. Somos mutáveis e a cada dia precisamos reprogramar o nosso olhar sobre as coisas.

É claro que quando mudamos nossos pontos de vista ocorre um pequeno ou grande (dependendo da situação) caos em nós. E o que temos que fazer? Costumamos querer nos livrar do desconforto dele, correr para ser novamente a Giovana de ontem. Assim, daquele jeito conhecido, será que eu tenho o controle das coisas? Claro que nãooooo. Suportar o caos e permitir novos pontos de vistas entrarem em minha vida me permite subir camadas. Subir degraus. Mas depende da minha atitude.

Então a dor faz parte, mas ela tem que ser uma vírgula. Se precisar cantar uma música, sapatear, fazer uma aquarela, tomar um banho de cachoeira, falar com um amigo contador de piada, ou mesmo ir na frente do “culpado” para sentir-se melhor, é preciso fazer. Ninguém fará por você. Ninguém sabe o quanto aquilo está te complicando a vida. Teus registros, tuas vivências somente tu consegues compreender e por isso ninguém é culpado (nem você nem o que você acha que é a culpa). São apenas passagens entre a pessoa de ontem e a de hoje. São o resultado de nossas escolhas e não podemos nos culpar por isso. Escolhemos o que naquele momento achávamos ser o certo, e pronto.

Nossa vida cotidiana não precisa de mais “pessoas de sucesso”. Precisa-se de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de histórias e amantes de todo tipo. Eu acredito que além da vírgula também é preciso coragem de se abandonar do ontem para viver um hoje com muito mais encantamentos.